Lindaura era filha da terrra,
Ou mais, era bicho da terra,
Era coisa da terra, assim como arara,
Assim como as lendas, assim como as onças,
Assim como as antas, jacus, gaviões.
Lindaura, mulher de família,
Colhia castanhas, mãos dadas co'a mata,
Criava seus filhos, amava o marido,
Amava esta vida, na paz mais completa.
Lindaura, porém, jamais esperara,
Que um monte de bestas, com foices e serras,
Com armas em punho e seus olhos de monstro,
Fizesse da mata um paiol de madeira.
Matassem as onças, jacus, gaviões,
Matassem seu homem, roubassem-lhe a terra,
A paz, a alegria, projetos e sonhos.
Lindaura, sem terra e sustento,
Desceu lá do norte, fincou pé no Rio,
Depois das agruras e mil provações
Vividas em tantas cidades distintas,
Depois de ser tudo o que nunca pensara:
Meretriz e mendiga, faxineira também.
Lindaura, hoje em dia, tão longe da terra,
Do lixo das ruas que ganha seu pão.
Tem dores no corpo, saudades doídas,
Dois filhos no crime, um morto de dengue.
Menor de cinquenta, parece tão velha,
Desejos, se tem, são todos de morte,
Se tem esperança, é o rumo do tempo,
Que um dia a irá suprimir deste mundo.
Barão da Mata
Já que somos poetas marginais por não termos ainda projeção, resolvemos então sê-los totalmente, no poema, conto, crônica e todo o mais. Ah, marginalidade inglória! Por que nos marcais tão cruelmente? Ai, caramba, que dramático! Quem vier, verá que não merecemos esta pecha que nos dão(emos). Nós brilhamos e talento não nos falta. Estamos à margem da Literatura e a ela integrados por inteiro. Já que nos faltam os mecenas, que hoje só promovem o ridículo, vamos à luta com nosso talento!
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